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O fim do Hotel Cambridge

Reduto de baladeiros, prédio abrigará projetos da Cohab. Parte do terreno, porém, ganhará nova casa noturna

Por Alexandre Aragão
Atualizado em 5 dez 2016, 18h10 - Publicado em 14 abr 2011, 20h44
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  • Boa parte dos baladeiros paulistanos já passou, em algum momento, por uma festa realizada no Hotel Cambridge — a Gambiarra e a Trash 80’s, por exemplo, agitaram madrugadas ali. Não vai mais rolar. Quem circula pelo local que há cerca de uma década havia virado um polo boêmio percebe que a movimentação diminuiu. Motivo: o imóvel foi desapropriado pela prefeitura por causa de dívidas acumuladas. “O Edgard não tinha nem pretensão nem interesse de ficar com o imóvel”, afirma o advogado Marcos Costa, referindo-se ao seu cliente, Edgard Alexandre Maluf, último proprietário do edifício.

    A desapropriação só andou mesmo neste ano, mas a história começou em fevereiro de 2010. Foi quando a prefeitura declarou o imóvel como de interesse social — prática que faz parte do programa de revitalização do centro. Em dezembro, teve início uma ação judicial que culminou no depósito em juízo, por parte da administração pública, de 6,5 milhões de reais. Seria este o valor do imóvel, segundo estimativa de técnicos da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab). O próximo passo é a posse definitiva, que deve acontecer ainda neste semestre.

    Para onde vai esse dinheiro? Uma fatia, 690.000 reais, quitará dívidas de IPTU, ações trabalhistas e juros. Os dados são da Secretaria de Negócios Jurídicos da prefeitura. Serão descontados cerca de 30.000 reais pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que descobriu um ”gato” na rede hidráulica do hotel. O resto — cerca de 5,7 milhões de reais — ficará com o ex-proprietário, Edgard Maluf. Os 119 apartamentos espalhados por quinze andares entrarão em programas da Cohab.

    Noite reinventada

    O novo destino do edifício não significa, porém, que os boêmios daquela região ficarão órfãos. É que o Cambridge consistia numa mistura de terrenos diferentes — caminhar lá dentro era pedir para se perder, de tão labiríntico — e apenas parte dele pertencia ao imóvel desapropriado. O trecho que faz frente para a Avenida Nove de Julho, com o bar e o lobby, se vão. E o pedaço virado para a Rua Álvaro de Carvalho, nos fundos, permanece, e com novidades. “Vamos abrir no dia 9 de junho”, promete o empresário da noite Francisco Mafra.

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    Do que ele fala? Da próxima balada a ocupar o lugar. Será o resultado da junção dos já existentes Picasso e Salvador Dali (na Álvaro de Carvalho) com um terceiro imóvel, na esquina da Rua João Adolfo. O nome será Bar d’Hotel, o mesmo da área no Cambridge em que a movimentação dos notívagos se tornou mais intensa, no início dos anos 2000. Mafra diz que pretende manter decoração parecida, aliás. “Mas teremos o dobro do espaço.” Ou seja, a noite naqueles arredores parece nunca ter fim mesmo.

    “Bar é cultura, frequente-o”Inaugurado em 1951 com projeto do arquiteto Francisco Bak, o Hotel Cambridge tornou-se de cara um dos mais chiques da cidade. No bar do local, três painéis feitos pelo artista plástico Danilo Di Prete no mesmo ano da fundação davam ainda mais requinte ao ambiente. “Bar é cultura, frequente-o”, lia-se em cartaz afixado numa das paredes. Por lá, passaram celebridades brasileiras e estrangeiros, como Dick Farney, Nat King Cole e Johnny Alf.

    Construído pelo empresário Alexandre Issa Maluf, pai de Edgard Maluf, o Cambridge foi alugado e gerenciado durante muitos anos por um grupo de espanhóis. Após uma briga entre as partes, voltou às mãos do antigo proprietário — e começou a decair. No início da década de 90, passou por uma reforma, na tentativa de manter o glamour.

    Morto em fevereiro de 1998, Alexandre Maluf deixou o hotel nas mãos dos filhos, Edgard e Renée. O Cambridge continuou a funcionar como hotel até 2002, quando passou a receber exclusivamente festas.

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