A menina que brincava de bola, empinava pipa e andava de bicicleta pelas ruas da Penha, na Zona Leste da capital, transforma-se em protagonista de novela das 9. Parece ficção, mas não é. Essa é a história de Paolla Oliveira, que interpreta a médica Paloma em Amor à Vida, da Globo. “A gente se divertia a valer no pedaço, não tinha essa de ir ao Parque do Ibirapuera”, recorda. “Para mim, o Tatuapé, ali na vizinhança, era o máximo da sofisticação. Não visitava os Jardins”, conta ela, que cursou o ensino médio na Escola Estadual Professor Ascendino Reis, no próprio Tatuapé.
Ali, Paolla frequentava os bares da Praça Sílvio Romero, point dos estudantes para jogar baralho e paquerar. Casas noturnas na Vila Olímpia eram raridade. “Ninguém queria me dar carona, pois eu morava longe”, ri. Até os 23 anos, quando estreou em Belíssima (2005), a rotina da atriz era centrada nessa região, onde seus pais ainda moram. Ela fez oficinas de teatro no Belém e no Tatuapé, cursou fisioterapia em São Miguel Paulista e estagiou no Hospital Geral de Guaianases.
Além de Paolla, outras profissionais que vêm aparecendo bem na TV nasceram na Zona Leste. Débora Nascimento, Sthefany Brito, ambas de Flor do Caribe, e Fernanda Souza, de Malhação, vieram da mesma região, que é cenário recorrente de folhetins desde a década de 80. “Bairros como Mooca e Belenzinho, que são de classe média, costumam ser retratados de forma pouco realista, sempre abrigando os núcleos pobres das tramas”, comenta Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira.
Criada na Vila Matilde, Débora é só orgulho ao falar do lugar. “Sei que lá existem vários problemas de infraestrutura e até violência. Mas, quando alguém faz uma piada preconceituosa, digo que sou ZL, sangue no olho e maloqueira”, diverte-se. Entre suas atividades preferidas na adolescência estavam jogar vôlei e pescar no Clube Esportivo da Penha, além de dançar com as amigas no Cabral, balada do Tatuapé. 15 anos para ser modelo, Débora é presença constante na Vila Matilde, onde sua família continua morando. “Quando visito minha mãe, fico em casa. No ano passado, fui ao supermercado comela e foi um tumulto só.”
Estrelas da primeira versão de Chiquititas, levada ao ar pelo SBT no fim dos anos 90, Sthefany Brito e Fernanda Souza foram obrigadas a se mudar da região aos 12 anos porque as gravações da novelinha eram na Argentina. “Em Buenos Aires, do que mais sentia falta era treinar judô no Corinthians”, lembra Sthefany, nascida na Vila Formosa. Para Fernanda, a Zona Leste lembra diversão. “Fui criada num condomínio da Vila Matilde. Eu adorava quando ia para a casa da minha avó, que ficava no mesmo bairro, e podia jogar queimada na rua e ajudar minha tia a fazer picolé para vender na vizinhança.”