Por volta das 18 horas do último dia 4, a produtora Mirela Arruda e um cinegrafista iniciaram sua jornada de trabalho. Os únicos detalhes que sabiam sobre a missão é que deveriam se dirigir à sede do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, no Campo Belo, para acompanhar um comboio de treze viaturas em busca de ladrões de carros. Com roupas pretas, toucas e coletes à prova de bala, os dois se camuflavam entre os quase quarenta policiais. Só que, em vez de metralhadoras e escopetas, carregavam bloquinho de anotações e uma câmera. Quase nove horas depois, em uma delegacia do Ipiranga, o saldo era de três veículos recuperados, dois bandidos presos e ação para oito minutos de um episódio do programa Câmera em Ação, transmitido pela Record nas noites de segunda, com picos de 12 pontos na audiência. “Faltou troca de tiros, mas ficou interessante”, avaliava Mirela, ao fim da jornada. Além desse seriado, derivado do Operação de Risco — o primeiro reality policial do país, que estreou em 2010 na Rede TV! —, outras seis atrações que retratam a rotina de operações das polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros e de órgãos de emergência compõem a programação aberta e paga, todas com locações na capital .
Elas levam o telespectador para dentro das viaturas e reproduzem situações como a da perseguição a traficantes na Rodovia Fernão Dias por mais de 30 quilômetros, em 2011, que terminou com três bandidos presos e dezenas de tiros trocados. Alguns passando bem perto da câmera, diga-se. As cenas de perigo são fruto de uma troca entre corporações e produtoras: audiência por credibilidade. “É importante que a população entenda o tipo de trabalho realizado e os resultados disso”, afirma Fabio Martin, delegado do GOE. Para a diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Elisabete Sato, mostrar policiais em intensa atividade aumenta a sensação de segurança da população e o prestígio das corporações. “Nos dias seguintes às exibições, recebemos várias ligações de pessoas querendo ingressar na profissão”, conta.
O vereador Paulo Telhada, ex-coronel da Rota, defende esse tipo de atração com o argumento da transparência. “Quando a polícia não quer aparecer, é porque está fazendo algo errado”, acredita. O tema é polêmico. Alguns especialistas veem com reservas a onda. “A segurança pública falida usa a caça ao bandido como bode expiatório para os problemas sociais”, critica o professor Vitor Blotta, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Nas salas de edição da produtora Medialand, em Higienópolis, são finalizados seis dos sete programas atualmente no ar (a exceção é o Polícia 24 Horas, da Cuatro Cabezas). Outras quatro atrações estão a caminho, incluindo a segunda temporada do Investigação Criminal — que acompanha casos como o assassinato da advogada Mércia Nakashima —, com estreia em novembro, no canal A&E. O conhecimento na área permitiu a concepção da série de ficção Força de Elite, com lançamento previsto para janeiro de 2014, pela MGM HD, com histórias baseadas em ações reais da polícia. “A repulsa pela violência prende a atenção”, entende o produtor executivo Beto Ribeiro.