No lugar dos carros, da poluição e das buzinas, ciclovias, áreas verdes e apresentações culturais. Um grupo de paulistanos se reuniu para realizar algo que pode mudar a cidade: transformar o elevado Costa e Silva, o Minhocão, em parque.
A ideia, segundo o empresário Athos Comolatti, integrante da Associação Parque Minhocão, é simples. Fechar o elevado para os mais de 100 mil veículos que passam por ali todos os dias e fazer um projeto paisagístico que inclua áreas de lazer, verde e ciclovia. “É uma solução bastante óbvia. Fazer um parque é uma coisa simples. Não existe dificuldade técnica, existe uma dificuldade política”, diz o empresário.
Formada por arquitetos, professores, ativistas e artistas, a Associação Parque Minhocão foi oficialmente formada em agosto deste ano. O grupo já tem sede – um apartamento que tem todas as janelas direto para o elevado – e um plano claro. Eles querem mobilizar os cidadãos e o poder público para fazer com que todos os dias sejam domingo no elevado. “É uma ação de dignidade e de lazer para as pessoas que moram nessa região”, explica o artista plástico Felipe Morozini, que também faz parte da associação.
A grande inspiração para o grupo é uma outra associação, a dos amigos do High Line, em Nova York. Fundada em 1999 por dois vizinhos da antiga linha férrea, a associação levou oito anos para conseguir transformar em realidade uma das principais atrações turísticas da cidade atualmente. Ao invés de demolir a estrutura elevada, a prefeitura de Nova York transformou em uma espécie de parque que atrai milhares de pessoas todos os dias.
+ “Não é necessário ter dinheiro ou experiência para mudar cidades”, diz co-fundador do High Line
Robert Hammond, um dos fundadores da associação, está nesta semana no Brasil, participando o Arq. Futuro e deve se encontrar com alguns dos integrantes do parque Minhocão. Desde que o High Line foi inaugurado, serviu de inspiração para projetos e grupos em todo o mundo e, para Hammond, o Minhocão tem sim o potencial para ser transformado. “Meu conselho para a associação é começar a fazer. Você não precisa ter experiência, um plano definitivo ou dinheiro. Nós não tínhamos nada disso quando começamos o High Line e essa é a mágica de tudo isso, basta começar a fazer. Isso força as pessoas a se unir em torno do projeto.”
Uma diferença entre os dois projetos, no entanto, é fundamental. O High Line não era uma via de carros e estava inutilizado por anos antes de se tornar o parque. Segundo Morozini, a intenção do grupo é que nenhuma outra via seja construída para dar vazão aos carros. “A cidade vai ter que absorver esses carros de outra forma. Não é possível que esses bairros [vizinhos ao elevado] continuem pagando pelos veículos que circulam ali. Será indiscutível a melhora na vida das pessoas e a devolução de dignidade também para os edifícios vizinhos.”
Robert Hammond acredita que o projeto tem que levar em conta a comunidade e suas necessidades. “O que falta no Minhocão que as pessoas procuram? Faz sentido construir um parque ou mudar o que acontece ali? O que as pessoas querem fazer?”, questiona.
O próximo passo do grupo é começar a realizar pequenos eventos no elevado aos domingos. “Vamos fazer isso para as pessoas começarem a entender que uma área de lazer compreende muitas coisas. Queremos que cada um se sinta dono deste lugar”, diz Morozini.