O artista plástico Carlos Vergara, 82, é gaúcho de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ele estava com uma grande exposição em Porto Alegre, Carlos Vergara — Poética da Exuberância, com curadoria de Luiz Camillo Osório, acontecendo simultaneamente na Fundação Iberê Camargo e no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), quando a tragédia das enchentes foi deflagrada.
A mostra era uma ampla e histórica individual sobre sua trajetória. “Estávamos em Porto Alegre, minha mulher, Bia, e eu, para o encerramento da exposição. A água atingiu o subsolo do MARGS e a minha exposição era no segundo andar”, relata ele. “A equipe do museu retirou as obras na mão e trabalhou heroicamente para salvar o acervo.”
As duas instituições ficam próximas do Rio Guaíba. Na Fundação Iberê, Vergara exibia uma retrospectiva do seu trabalho, e no MARGS, sua produção atual. “Foram complementares, o Luiz Camillo foi muito rigoroso nas escolhas. Para a retrospectiva, abri minhas mapotecas, que não abria há anos, e achei obras dos anos 50 e 60”, conta. “Nos espaços do museu, foi muito boa a conversa com Iberê através dos nossos trabalhos.”
O artista estava hospedado em um hotel alto e não sofreu maiores consequências, embora tenha ficado sem água. “Eu vi a catástrofe da cidade”, conta. “A água dos quartos vinha da piscina; enchiam baldes, foi uma loucura. Sou gaúcho e ver meus conterrâneos passando por tudo isso foi muito triste.”
Para sair de Porto Alegre e voltar ao Rio, cidade onde vive há mais de seis décadas e onde tem seu ateliê, no bairro de Santa Teresa, o artista teve de alugar uma van para Florianópolis, e levou oito horas para chegar lá saindo da capital gaúcha.
Convidamos Vergara para fazer a Mural SP desta semana, em um trabalho-homenagem à sua terra natal. Da série Missões, que ele desenvolve a partir das Missões do Rio Grande do Sul, trazemos a obra São Miguel Arcanjo, feita com tinta acrílica, pigmentos naturais e pó de mármore sobre lona crua, datada de 2024.
Vergara vai participar de um leilão beneficente, doando obras em prol das vítimas da catástrofe. “Em um mundo assolado pela violência e estupidez humana, e pela consequente crise climática, é pela fé, pela força interior e solidariedade que se poderá encontrar o caminho da reconstrução.
Publicado em VEJA São Paulo de 24 de maio de 2024, edição nº 2894