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Baixa umidade e calor fazem poluição ultrapassar padrão máximo da OMS

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 29 dez 2016, 14h21 - Publicado em 3 set 2010, 23h55

Se alguém caminhar pela Avenida Faria Lima às 10 horas nestes dias de clima desértico, correrá o risco de inalar uma quantidade de poluentes maior que a encontrada em bares da cidade. Isso, antes de entrar em vigor a Lei Antifumo. Sim, o ar está tão seco e sujo que, em alguns locais, temos a sensação de estar imersos num fumódromo. E não se trata de mera impressão. Em abril do ano passado, VEJA SÃO PAULO visitou setenta lugares da capital para verificar a qualidade do ar que respiramos. Em cada um deles, medimos a quantidade de partículas finas, um dos poluentes mais agressivos ao organismo. Na última quarta (1º), voltamos a cinco desses locais para reavaliar a situação. Todos ultrapassaram o limite de 25 microgramas do material por metro cúbico ao longo do dia, estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Três pontos registraram aumento em relação ao ano passado, principalmente devido à baixa umidade. É o caso, por exemplo, das avenidas Faria Lima, Juscelino Kubitschek e Rebouças. Na Faria Lima, nosso instrumento marcou 172 microgramas por metro cúbico contra 33 em 2009. O resultado atual é maior que o aferido dentro do bar Filial, onde medimos, no primeiro teste, 158 microgramas por metro cúbico.

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“Com o tempo seco, as partículas finas não se depositam no chão e ficam mais disponíveis na atmosfera”, afirma Marco Antonio Martins, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP, que acompanhou o teste. “A umidade consegue aglutiná-las e, como ficam maiores, tornam-se mais difíceis de ser inaladas.” Com um vigésimo da espessura de um fio de cabelo, o composto é capaz de penetrar no corpo e deflagrar inflamações, processos que dão origem a uma série de doenças.

Nosso ar continua uma vergonhaEm abril do ano passado, a reportagem de VEJA SÃO PAULO visitou setenta lugares da cidade para verificar a qualidade do ar. Em cada um deles, medimos a quantidade de partículas finas. No último dia 1º, voltamos a cinco desses locais para reavaliar a situação, agora com tempo seco. Ao longo do dia, todos ultrapassaram o limite de 25 microgramas do material por metro cúbico estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Três pontos registraram aumento em relação ao ano passado, por causa do ar seco.

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 A Marginal Pinheiros e a Avenida dos Bandeirantes foram os únicos dois locais de nossa avaliação que tiveram uma melhora na qualidade do ar. Os índices baixaram 50% e 37% respectivamente, mas ainda assim a concentração de poluentes é o triplo do padrão recomendado pela OMS. “Uma das possíveis causas da redução pode ter sido a restrição aos caminhões implementada nessas duas vias”, diz Martins. Veículos movidos a diesel são responsáveis por 80% do total de partículas finas emitidas pela frota paulistana. Anunciada no início do mês de agosto em caráter educativo, a proibição passou a vigorar na quinta-feira (2), quando a fiscalização começou para valer. A nova Marginal Tietê e o trecho sul do Rodoanel também ajudaram a expulsar os grandalhões dessas duas vias. No mês passado, a CET registrou um fluxo 68% menor de caminhões na Avenida dos Bandeirantes e uma queda de 58% na Marginal.

Além de aumentar a concentração de partículas finas, o clima desértico elevou a de ozônio e as de partículas inaláveis (que têm quatro vezes o tamanho das mais finas). Desde o dia 20, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) tem registrado alterações nesses dois poluentes. O material particulado ultrapassou os padrões por três vezes. Já a concentração de ozônio ficou inadequada por dez dias consecutivos. A última vez em que isso havia ocorrido foi em 2002.

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“Não esperávamos esse fenômeno no inverno, já que a formação de ozônio é mais comum em estações quentes”, afirma Carlos Eduardo Komatsu, gerente do departamento de qualidade ambiental da Cetesb. O poluente está ligado a crises de asma e pneumonia, já que acelera a perda das funções dos pulmões em adultos. Segundo um estudo americano divulgado em março do ano passado, o risco de morte por problemas respiratórios é o triplo em áreas com grandes concentrações dessa substância.

Está difícil respirar

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A solução para acabar com esses problemas é uma só: chuva. Em todo o mês de agosto, um dos mais secos da história desde 1943, tivemos de nos contentar com apenas 0,4 milímetro de água, 1% da média esperada para o período. Com temperaturas elevadas de até 30 graus, era natural que a atmosfera secasse. Foram onze dias seguidos de umidade relativa do ar abaixo dos 30%. O recorde foi de 12%, no dia 27. Parâmetros internacionais recomendam um mínimo de 60%. Apesar disso, os especialistas garantem que não há motivos para culpar o aquecimento global.

A responsabilidade por esse inverno desértico é das massas de ar polar, uma das principais fontes de chuva para o país nesta estação. Em 2010, no entanto, elas atingiram o país com intensidade bem maior que o normal. Por isso, chegaram ao Sudeste mais secas que de costume, trazendo muito frio e quase nada de chuva. Essa mudança vai continuar bagunçando o clima por mais algum tempo. Segundo os meteorologistas, podemos esperar uma primavera seca. Mesmo assim, a limpeza do ar e o tão aguardado alívio para as narinas estão previstos para a segunda semana deste mês. Tomara!

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