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Após descarte do Morumbi, São Paulo ainda não tem novo estádio

Além de Parque Antártica e Pacaembu, que precisam de reformas, novo complexo em Pirituba pode receber partidas do Mundial no Brasil

Por Daniel Salles e Maria Paola de Salvo
Atualizado em 1 jun 2017, 18h44 - Publicado em 25 jun 2010, 23h08
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morumbi_projeto_copa_2014 (Divulgação/)
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Em 1950, quando o Brasil hospedou sua primeira Copa do Mundo, São Paulo foi cenário de seis das 22 partidas da competição. A seleção entrou em campo numa única ocasião por aqui, contra a da Suíça, com a qual empatou em 2 a 2. No total, as redes do Estádio do Pacaembu balançaram 24 vezes (não foi tanto; afinal, o Uruguai bateu a Bolívia por 8 a 0 em Belo Horizonte). A Celeste, aliás, fez seus dois últimos jogos por estas bandas — 2 a 2 com a Espanha e 3 a 2 contra a Suécia — antes de bater o Brasil por 2 a 1 no Maracanã, provocando o primeiro grande trauma do nosso futebol. Passados sessenta anos, os paulistanos estão arriscados a sofrer outro baque: o de não poderem apreciar nem sequer um golzinho por aqui durante a Copa de 2014.

Seria um acinte para a maior cidade do Hemisfério Sul, que concentra 12% do produto interno bruto (PIB) brasileiro. Sediar jogos da Copa não é bom apenas para quem poderá acompanhá-los de perto. Durante o mês da competição, a São Paulo Turismo (SPTuris) estima que pelo menos 3 000 jornalistas e 680 000 turistas deverão nos visitar — 180 000 deles estrangeiros. Em um cálculo conservador, isso traria uma receita de 1,5 bilhão de reais. Nos dois anos seguintes à Copa, o número de turistas cresceria 20% e saltaria para 15 milhões por ano. Em 2009, recebemos 11,3 milhões de visitantes. Para atender tanta gente, contamos com 410 hotéis, que reúnem 42 000 quartos. Nenhuma cidade na América do Sul tem tamanha oferta hoteleira. São Paulo também ganharia — e muito — com a antecipação de obras de infraestrutura, como a construção de linhas de metrô e a ampliação de nossos aeroportos.

No último dia 16, a Fifa anunciou, em plena Copa da África, seu cartão vermelho para o Estádio do Morumbi, de propriedade do São Paulo Futebol Clube. A arena são-paulina seria palco da cerimônia de abertura da Copa 2014. Ficou de fora da disputa graças a uma bola dividida entre a Fifa, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o próprio São Paulo, que alega ter levado a pior nessa disputa. Segundo o comitê organizador local, do qual faz parte a CBF, o clube não teria apresentado garantias financeiras necessárias para o projeto de reforma da arena, orçado em 630 milhões de reais. Para cumprir as exigências da organização, o São Paulo teria de reconstruir duas arquibancadas. Esse foi o quinto plano de uma série de seis esboços que começaram a ser delineados em janeiro de 2009. “A Fifa realizou uma gincana conosco, já que identificou problemas em todas as propostas apresentadas”, afirma José Francisco Manssur, advogado do São Paulo Futebol Clube e membro do comitê criado para elaborar a reforma do Morumbi. “Para nós está muito claro que, desde o começo, o interesse deles foi promover a construção de outro estádio na cidade e deixar o Morumbi de lado.”

Após descarte do Morumbi, São Paulo ainda não tem novo estádio

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Depois de tantas idas e vindas, e com a recusa do BNDES de custear parte do valor orçado, o clube concluiu que não valia a pena insistir na obra. Partiu então para um plano mais modesto, de 250 milhões de reais, na tentativa de sediar apenas jogos menores do Mundial. A empreiteira Camargo Corrêa estaria disposta a bancar os custos. Segundo o clube, as exigências da Fifa com o Morumbi sempre foram mais rígidas que as observadas na África. As cadeiras precisariam medir 50 centímetros, enquanto as dos estádios sul-africanos têm, em média, de 45 a 47 centímetros. A economia de espaço aumentaria a capacidade de público das arenas deles. O Soccer City, palco da abertura da atual Copa, por exemplo, não tem metrô próximo, mas para o Morumbi está prevista a conclusão da Linha 17-Ouro até 2014.

Parque Antártica e Pacaembu são outras opções na manga, mas não para a abertura. A sede do Palmeiras começará as obras de reforma, orçadas em 300 milhões de reais, no mês que vem. A conclusão está prevista para 2012. “O Pacaembu poderia ser repaginado pelo mesmo valor e ser ampliado para 45 000 lugares”, afirma o deputado federal e ex-secretário municipal de Esportes, Walter Feldman, partidário da ideia. Até o fechamento desta edição, no entanto, nem a CBF, nem a prefeitura nem a Fifa haviam emitido um veredicto sobre o destino de São Paulo na competição.

O presidente Ricardo Teixeira disse que a cidade não poderia ficar fora da Copa, mas afirmou que só se pronunciaria ao final do Mundial da África. Ao mesmo tempo em que nega a injeção de dinheiro público num local para a abertura, o prefeito Gilberto Kassab tem alardeado as obras do complexo Piritubão como o grande investimento de sua gestão. Em 1º de junho, anunciou detalhes do projeto num evento para moradores de Pirituba. Segundo o prefeito, o empreendimento teria um centro de convenções cujo tamanho é o triplo do Anhembi, estádio para 45 000 pessoas e estacionamento com 80 000 vagas. O custo estimado ultrapassaria 1 bilhão de reais. Ainda assim, cerca de quinze investidores internacionais estariam interessados no que Kassab mesmo chama de “esquina do ouro da cidade”. Localizado num terreno de 5 milhões de metros quadrados, na Rua Doutor Felipe Pinel, a área hoje é ocupada por mato. Parte do terreno pertence à Companhia City de Desenvolvimento, que pretende construir 3 000 casas no local e nega ter recebido qualquer proposta de compra da prefeitura até agora.

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Segundo José Roberto Bernasconi, presidente da regional São Paulo do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), um novo estádio leva em média trinta meses para ficar pronto. “Se o local pretende sediar a Copa das Confederações, em junho de 2013, as obras deveriam começar imediatamente”, diz ele. Na última quintafeira (24), a colunista Sonia Racy, do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, publicou uma nota afirmando que Kassab teria avisado à Fifa que o projeto do Piritubão está fechado e dado as garantias financeiras necessárias. Por meio de sua assessoria de imprensa, o prefeito negou. Em nota, reafirmou a decisão do governo municipal de não investir recursos públicos na nova arena. Mesmo assim, o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Luiz Bucalem, irá para Johannesburgo no próximo dia 5 de julho ver como a cidade sul-africana se preparou para o evento e se reunir com dirigentes da Fifa. Sua missão é garantir que São Paulo não leve um chapéu de outras capitais e fique relegada à condição de mera espectadora daqui a quatro anos.

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