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Apesar do projeto de despoluição do Tietê, as águas negras e fétidas continuam evidentes

O aumento da calha melhorou o problema das enchentes, mas, o projeto de despoluição do Tietê encerra a segunda etapa mostrando que falta melhorar sua aparência feia, escura e malcheirosa

Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualizado em 5 dez 2016, 19h28 - Publicado em 18 set 2009, 20h30
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  • Pobre Rio Tietê. Como se não bastassem as 700 toneladas de esgoto que recebe diariamente da região metropolitana de São Paulo, foi vítima, na semana passada, de dois grandes derramamentos tóxicos, ambos provocados por acidentes de caminhão na Marginal Tietê. No primeiro, 10 000 litros de diesel escorreram na pista e acabaram no rio, enquanto no segundo vazaram 34 000 litros de um solvente altamente inflamável chamado tolueno. Além de provocarem congestionamentos, os acidentes aumentaram a contaminação do mais vergonhoso cartão-postal paulista. Para mudar essa imagem, 3 bilhões de reais foram investidos nos últimos dezesseis anos no Projeto Tietê, a maior iniciativa de saneamento da história do Brasil. Neste mês, completa-se a segunda etapa de seu programa de despoluição. Muita coisa melhorou. O aumento da calha exorcizou o fantasma das enchentes, a paisagem agora está povoada de árvores e a rede de esgotos de São Paulo evoluiu como nunca. Mas o rio ainda não está para peixe. Um levantamento ambiental do IBGE divulgado no início do mês confirmou que o Tietê reina como o mais poluído do país.

    As águas negras e fétidas continuam evidentes especialmente para quem dirige pela marginal entre Guarulhos e o Cebolão, onde o Tietê encontra seu afluente mais poluidor, o Rio Pinheiros. O lamentável hábito de jogar lixo nas ruas contribui para que 35% da podridão do Tietê ainda seja atribuída a dejetos físicos que chegam por bueiros e córregos. Monstro maior é o esgoto industrial. “As fábricas fazem seus lançamentos químicos de forma indiscriminada, e muitas nem são multadas”, afirma Virgílio de Farias, presidente da ONG Movimento em Defesa da Vida (MDV).

    A agonia do Tietê veio a público durante a Eco 92 graças a um abaixo-assinado de 1,2 milhão de pessoas capitaneado pela Rádio Eldorado e pela ONG SOS Mata Atlântica. A população aderiu à causa e pressionou o governo, que conseguiu do Banco Interamericano de Desenvolvi-mento, o BID, o primeiro de uma série de financiamentos que tinha como inspiração a ressurreição dos rios Tâmisa, em Londres, e Sena, em Paris. O processo se mostrou bem complexo devido ao fato de São Paulo ter uma população poluidora maior que a de Londres e um rio que não corre com a força do Tâmisa, o que facilitaria a dispersão dos poluentes. Prevista para durar mais de trinta anos, a estratégia de limpeza foi dividida em três etapas. A primeira foi concluída em 1998 e contemplou as grandes obras que aumentaram de dois para cinco o número de estações de tratamento de esgoto da cidade.

    Foi quando o projeto sofreu uma interrupção de quatro anos. “As estações viraram grandes elefantes brancos, que não eram úteis por não estar ligadas à rede doméstica”, lembra Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica. “Por falta de transparência no uso da verba inicial e mau uso político da obra, o dinheiro acabou e a população não se mobilizou novamente.” O governo do estado só retomou o projeto em 2002, com um novo investimento que permitiu à Grande São Paulo acumular hoje 3 500 quilômetros de novas tubulações, com índices de coleta de esgoto residencial que subiram de 63%, em 1992, para os atuais 84%. O tratamento desses dejetos representa uma conquista ainda maior que a coleta: só duas de cada dez casas com esgoto coletado tratava seus descartes antes que fossem despejados no rio, um número que hoje atinge sete em cada dez moradias.

    A maior evolução ocorreu na metrópole: 97% do esgoto da capital hoje tem coleta, e 70% desse total passa por tratamento. Ironicamente, nos 70 quilômetros percorridos pelo rio na capital concentra-se a maior mancha de poluição, onde o nível de oxigênio da água chega a zero (um rio saudável precisa de pelo menos 8 miligramas de oxigênio por litro). O motivo é o despejo de esgoto in natura, sem tratamento algum, de Guarulhos e de cidades do Grande ABC, poluidoras do Rio Tamanduateí, que deságua no Tietê. Elas não se conectam às estações de tratamento por questões econômicas, um problema que está longe de ser resolvido. “Mesmo se a cidade de São Paulo não despejasse uma única gota de esgoto no Tietê, sua poluição seria a mesma, pois a maior parte de seus poluentes chega de outras cidades e de outros rios”, diz Marcelo Salles, diretor de meio ambiente da Sabesp, órgão que encabeça o Projeto Tietê.

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    Apesar do atraso, a segunda fase da despoluição reduziu o esgoto jogado em áreas de mananciais como as represas Billings e Guarapiranga, elevou os níveis de oxigênio em cidades próximas à cabeceira e amenizou o estrago provocado pelo Rio Pinheiros. A próxima fase, orçada em 5 bilhões de reais e programada para ser concluída em 2023, prevê a expansão do saneamento em cidades periféricas. Até lá, a população da Grande São Paulo poderá beirar os 22 milhões de habitantes. O objetivo do Projeto Tietê é “universalizar” o tratamento do esgoto produzido por esse mundaréu de gente. Isso significa filtrar todo esse esgoto coletado para que se possa, quem sabe, voltar a remar em suas águas.

    1. Barcos à vista

    Durante as obras, cerca de 100 embarcações navegaram no perímetro urbano para transportar funcionários – algo que não se via desde os anos 1970. Atualmente, há, inclusive, um passeio de educação ambiental para crianças de escolas públicas

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    2. Despejo de esgoto

    Mais de trinta cidades da região metropolitana despejam no rio 33 000 litros de esgoto por segundo. Hoje, 59% dos descartes domésticos são tratados em cinco grandes estações, um avanço em relação a 1992, quando apenas 17% eram filtrados em duas estações

    3. Arborização das margens

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    Foram plantadas 140 000 árvores de 100 espécies ao longo de 24 quilômetros da marginal e outras 200 000 mudas no Pomar Urbano do Rio Pinheiros, o afluente que mais joga poluentes no Tietê

    4. Ampliação da calha

    Para evitar enchentes, a calha do rio foi aprofundada em 2,5 metros (antes havia trechos de 50 centímetros) ao longo de 40 quilômetros, aumentando a largura da margem para até 46 metros

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    5. Área morta

    Em 1992, a mancha de poluição escurecia 300 dos 1 100 quilômetros do Rio Tietê. A “área morta” foi reduzida em 160 quilômetros. Concentra-se hoje na Marginal Tietê entre Guarulhos e o Cebolão

    6. Lixo das ruas

    Um terço da sujeira do Rio Tietê vem do lixo jogado por maus cidadãos nas ruas e córregos e arrastado pelas chuvas. Durante o projeto de ampliação da calha, foram removidos 150 000 pneus e 20 000 toneladas de lama e detritos

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