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Ângelo Salton Neto: o senhor do espumante

De cada três espumantes abertos no Brasil, dois são nacionais.E 40% da produção brasileira é da Salton

Por Roberto Gerosa
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Uma visita ao restaurante Fasano, em 2000, mudou a vida do empresário paulistano Ângelo Salton Neto. Enquanto tentava incluir um de seus rótulos na refinada carta de vinhos da casa, notou que a maioria das mulheres bebia um prosecco italiano durante a refeição. Imediatamente, ligou para o enólogo da Salton, em Bento Goncalves, no Rio Grande do Sul: “Aqui, só se bebe isso. Precisamos fazer o nosso”. Estava com sorte. Em suas propriedades havia 77 hectares cultivados com a uva prosecco, que era usada em outro tipo de vinho. Em três meses, lançou 6 000 garrafas. Um sucesso de público e crítica. De lá para cá, investiu pesado em sua linha de espumantes e, há três anos, chegou à liderança do setor, ultrapassando a Chandon, sua maior concorrente. De cada 100 garrafas de espumantes finos produzidas no Brasil, quarenta saem dos tanques de aço da Vinícola Salton, encravada na região de Tuiuti, vizinha a Bento Gonçalves.”E eu nem sabia que prosecco era o nome da uva”, conta Ângelo.

O bisavô de Ângelo veio para o Brasil em 1878. Saiu da comuna italiana de Cison di Valmarino, na região do Vêneto, próximo a Valdobbiadene, o berço dos melhores proseccos do mundo. Instalou-se na colônia italiana de Dona Isabel, atual Bento Gonçalves. Seus sete filhos fundaram, em 1910, a vinícola que foi batizada com o sobrenome da família. Na década de 40, o pai de Ângelo se mudou para São Paulo. O filho nascido aqui há 55 anos foi criado no prédio da Zona Norte onde atualmente funciona outra empresa do grupo, a Conhaque Presidente (20 milhões de litros vendidos ao ano). “Passei a infância no meio daquelas garrafas”, lembra. Engenheiro mecânico formado pelo Mackenzie, Ângelo largou a carreira para ingressar na companhia em 1976. Desde 1986, está na presidência do grupo, que tem um faturamento previsto de 39 milhões de reais para este ano, só com a linha de espumantes. “As mulheres e as festas são as grandes responsáveis por esse sucesso”, diz.

Ângelo, que cultiva a barba desde os tempos de faculdade, tem um jeito bonachão e um vozeirão que fazem lembrar um pouco o ator Orson Welles em seus últimos filmes. É um vendedor nato. Nas feiras de vinho, serve pessoalmente clientes e curiosos. “Defendo a qualidade do vinho nacional, e peço para comprar o meu, claro.” Atualmente, é respeitado pela crítica especializada e está sempre na mídia – pode ser visto com freqüência no Programa Amaury Jr., da Rede TV!. Até chegar a esse ponto, no entanto, teve de quebrar resistências. Certa vez, para chamar a atenção do jornalista e colunista de vinho da rádio CBN Renato Machado, abriu com estardalhaço um espumante. “Ele reclamou da maneira como a garrafa foi aberta, mas experimentou e aprovou a bebida”, afirma. “Não me lembro desse encontro e não tenho conhecimento dos espumantes da Salton para fazer qualquer comentário”, diz Machado. De olho na renovação dos consumidores, Ângelo aposta no lançamento, em fevereiro do ano que vem, do Prosecco Night, em garrafas de 375 e 700 mililitros. “Quando eu tinha 19 anos, só bebia uísque. Hoje, os jovens gostam de espumante”, afirma ele, que só foi trocar o malte escocês pelas borbulhas depois dos 40.

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