Demitido da Prefeitura, ex-aliado alega calote de empréstimo a vereador
Indicado por Zé Turin (PHS) a cargo na municipalidade, Luis Freitas deve hoje mais de 63 000 reais no banco; político é investigado pelo MP
Luis Freitas atuava em uma gráfica de sua família no bairro de Santo Amaro, na Zona Sul da capital, quando diz ter sido convidado pelo vereador José Arivaldo Rodrigues, conhecido como Zé Turin (PHS), para trabalhar na Prefeitura.
Freitas é considerado uma liderança política da região de Santo Amaro, que também virou reduto eleitoral do parlamentar. Os dois eram antigos conhecidos da área.
Indicações feitas por políticos a cargos da administração municipal se mostram prática recorrente em São Paulo. Nesse caso, Turin indicou Freitas para uma vaga na prefeitura regional de Santo Amaro. O homem de 38 anos foi nomeado em 7 de fevereiro do ano passado para o cargo de assessor técnico, com salário de pouco mais de 3 000 reais. Na época, o prefeito regional de Santo Amaro era Roberto Arantes Filho, hoje prefeito regional da Sé.
Um mês depois que Freitas começou a trabalhar na municipalidade, o aliado relata ter sido chamado por Turin para um pedido: um empréstimo. Março foi o mês que Freitas recebeu seu primeiro salário como servidor da prefeitura. “Ele me disse que precisava de dinheiro, porque não tinha grana para pagar algumas coisas”, afirmou Freitas à reportagem. Como vereador, Turin recebe um salário de 18 900 reais.
No mesmo dia, Freitas foi até o banco e pegou emprestado da instituição 30 000 reais, dinheiro que não tinha em sua conta corrente. Segundo o ex-funcionário, Turin orientou Freitas a fazer depósitos parcelados em contas de terceiros, também aliados do parlamentar.
Em junho, Turin voltou a pedir dinheiro emprestado. No dia 4, o aliado do vereador transferiu mais 5 900 reais para as mesmas contas da primeira vez. E, no dia 20, repassou mais 7 000 reais. Ao todo, foram quase 43 000 reais em empréstimos.
“O vereador tinha dito que ia me pagar direitinho. Afinal, o cara é vereador, com o salário que tinha, achei que fosse pagar”, disse Freitas.
O parlamentar, no entanto, não devolveu o dinheiro. Ao perceber a demora, Freitas começou a cobrar Turin pelo WhatsApp. VEJA SÃO PAULO teve acesso a algumas dessas conversas:
Em 18 de julho, a Prefeitura exonerou Freitas. Para ele, a demissão aconteceu a pedido do vereador. “Fiquei sabendo por terceiros. Me disseram que foi Turin quem pediu para me exonerar”, disse o ex-funcionário.
Questionada pela reportagem sobre o que motivou a exoneração de Freitas, a Prefeitura informou que “a contratação e a demissão de funcionários de confiança ocorrem de acordo com critérios técnicos e constante avaliação de desempenho de funcionários”. Até hoje, Turin não devolveu o dinheiro que deve ao seu antigo aliado – mais de 63 000 reais, em valores corrigidos com juros.
Turin não se manifestou até a publicação desta reportagem. O vereador é investigado pelo Ministério Público desde 22 de junho do ano passado por dar calote em servidores e aliados.
A promotoria resolveu abrir um inquérito depois de um funcionário do vereador ter dito que era coagido a emprestar dinheiro para ele. A investigação cita seis nomes de empregados do parlamentar que teriam sido obrigados a isso.
O regulamento interno da Câmara de Vereadores prevê a cassação do político que “usar os poderes e prerrogativas do cargo para constranger ou aliciar servidor, colega ou qualquer pessoa sobre a qual exerça ascendência hierárquica, com o fim de obter favorecimento indevido”.
Esse mesmo regulamento é instituído pela Corregedoria da Câmara, órgão responsável por receber e analisar denúncias contra vereadores em eventuais práticas de irregularidades cometidas por eles. Até o momento, a Corregedoria não tomou nenhuma atitude para apurar a conduta de Turin. Freitas e outros servidores que sofreram o calote não se manifestaram antes porque tinham medo de represálias.
Turin foi eleito vereador em 2016. Antes de entrar para a carreira política, era empresário, dono de uma rede de açougues em Santo Amaro. Como parlamentar, tem atuação discreta. Desde que chegou ao Legislativo, conseguiu aprovar oito projetos de sua autoria. Além disso, é investigado pela polícia por suspeitas de ter ligação com o crime organizado em São Paulo.