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Como Congonhas virou um desastrado local de boas-vindas

Segundo aeroporto mais movimentado do país vive caos em função do trânsito na região, da cobrança de bagagens e da crise da Avianca

Por Matheus Prado
Atualizado em 10 Maio 2019, 11h14 - Publicado em 10 Maio 2019, 06h00
Foto mostra passageiros com malas andando em direção a escada rolante
 (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Com boa localização e rotas privilegiadas, o Aeroporto de Congonhas, o segundo mais movimentado do país, recebe cerca de 21 milhões de passageiros por ano, mas a experiência de utilizá-lo não tem sido muito agradável. Os problemas começam no trânsito, após as mudanças implantadas há dois meses pela prefeitura na área de desembarque. Antes posicionados no andar inferior, os táxis foram deslocados para o superior, enquanto carros particulares e de aplicativo fizeram o caminho contrário. A medida melhorou a mobilidade no piso dos veículos de praça e tornou o outro um caos. Os congestionamentos passaram a ser constantes no Túnel Paulo Autran, que dá acesso ao aeroporto.

Aeroporto de Congonhas – gerente Kênia
A gerente Kênia: quarenta minutos de espera por carro (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A Uber estima um aumento de 60% no número de corridas encerradas na Avenida Washington Luís, com os usuários seguindo a pé até o terminal para evitar a fila. Os passageiros reclamam das alterações. “O andar de baixo tem uma pista, e o superior, três”, afirma o empresário Herbert Viana. “Já fiquei quarenta minutos esperando por um carro”, conta a gerente de projetos Kênia Gouveia, que usa Congonhas toda semana. A prefeitura, no entanto, comemora o impacto positivo no trânsito da região. Após as mudanças, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) anunciou uma redução de 5,5 para 4,4 quilômetros na lentidão média nos corredores das avenidas 23 de Maio e Washington Luís. “Não mudei a circulação para agradar a um grupo de pessoas, e sim para melhorar o trânsito da cidade”, diz o secretário de Mobilidade e Transportes, Edson Caram.

Companhias aéreas cobram pelas bagagens despachadas ou que excedem 10 quilos.
Companhias aéreas cobram pelas bagagens despachadas ou que excedessem 10 quilos (Alexandre Battibugli/Veja SP)

No momento do check-in, mais problemas para os frequentadores do aeroporto. Em 2017, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorizou as companhias aéreas a cobrar pelas bagagens despachadas ou que excedessem 10 quilos. Na teoria, a medida visava a tornar os preços das passagens mais competitivos e a alinhar o Brasil com o mercado internacional. Na prática, bagunçou ainda mais os terminais. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) estima que cerca de 8% dos passageiros não respeitam os limites de peso e tamanho para bagagens de mão. Isso provoca um efeito cascata: baús cheios, malas despachadas às pressas e atrasos nos voos. Os viajantes têm até seus macetes para escapar da vigilância. “Eles não olham mochila de camping”, diz a coordenadora de produção Gisela Diniz.

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Para tentar contornar a situação, a Abear iniciou há três semanas uma campanha para orientar os passageiros. Colaboradores posicionam- se à entrada do embarque para medir os volumes. Os que ultrapassarem o limite de 10 quilos ou não estiverem dentro das medidas (55 centímetros de altura por 35 de largura e 25 de profundidade) deverão ser despachados. A ideia é que a vistoria passe a ser obrigatória a partir de segunda (13). “Alguns deixam de cumprir as regras e atrapalham a todos. Precisamos mudar isso”, afirma o presidente da entidade, Eduardo Sanovicz.

Avianca
Avianca: cancelamento diário de voos (Bruno Rocha)

Na sala de embarque, mais contratempos. Em recuperação judicial, a Avianca cancelou pelo menos quinze voos em Congonhas nas últimas duas semanas. O leilão da companhia, que chegou a ser marcado para a última terça (7) mas acabou cancelado, pode afetar ainda mais os passageiros. A Azul (com 170 pousos e decolagens semanais por ali) disputa com a Gol e a Latam (cerca de 1 500 cada uma) o direito de ocupar os lugares da empresa em crise. No setor, existe o receio de que um “duopólio” impacte nos preços das passagens. “Congonhas não pode ficar na mão de duas empresas. Quem perde é o consumidor”, diz o engenheiro Alessandro Oliveira, professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e especialista em mercado de aviação civil. Por meio de nota, a Infraero informa que o aeroporto funciona normalmente e que os problemas de trânsito são responsabilidade da prefeitura, e o das bagagens, das próprias companhias.

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Confira a íntegra do posicionamento da Infraero:

“A Infraero repudia veementemente o viés conferido pela reportagem ao aeroporto de Congonhas, que opera seguindo os mais elevados critérios de segurança estabelecidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Além do mais, o aeroporto está em constante processo de melhorias para atender ao conforto dos passageiros, e por esses quesitos teve todos os seus índices avaliados como muito bons, conceito máximo da pesquisa de satisfação realizada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC).

Com relação aos itens citados pela reportagem, como problemas financeiros da Avianca e fiscalização de bagagens de mão pelas companhias aéreas, a Infraero reforça que são externos à atuação do aeroporto de Congonhas ou de qualquer outro. Sobre a mudança de tráfego de veículos próximo ao aeroporto, a Infraero esclarece que tem orientado passageiros, motoristas de táxi e de aplicativos sobre as mudanças, de forma a dirimir quaisquer problemas neste período de adaptação.”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 15 de maio de 2019, edição nº 2634.

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