A rotina mudou de forma abrupta na semana passada para a família de 330 pacientes com necessidades especiais. Dois dos cinco centros de recuperação da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) na capital fecharam suas portas: um em Santana, na Zona Norte, e o outro em Campo Grande, na Zona Sul. Cada um tinha 1 200 metros quadrados e oferecia fisioterapia, terapia ocupacional, psicólogos e médicos. Juntos, realizavam 43 600 atendimentos por ano. Dos 58 funcionários, vinte perderam o emprego. Os clientes foram transferidos para as unidades do Ibirapuera e da Mooca. “É a pior crise que enfrentamos em 65 anos de história”, resume o superintendente-geral, Valdesir Galvan. “Mas procuramos encerrar as atividades de locais cuja ausência traria menos prejuízos à população”, completa.
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A administração afirma que os espaços restantes na capital têm condições de absorver a demanda sem perda de qualidade nos tratamentos. Os familiares de usuários do serviço tentam se adaptar à nova realidade. Desde 2012, uma vez por semana, a vendedora Juliana Mercenas levava sua filha Isabela, de 5 anos, a Santana para se tratar da amiotrofia espinhal progressiva, uma doença genética que enfraquece os músculos. Na terça (6), foi pela primeira vez à Mooca. Saiu de casa às 7h30 e chegou ao destino às 9 da manhã. Na volta, pegou mais duas horas de trânsito e se atrasou para o trabalho. “Não quero que a crise econômica afete a saúde da minha filha”, reclama.
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No balanço deste ano do braço paulistano da AACD está prevista uma receita de 120 milhões de reais. Desse total, 106 milhões seriam obtidos com as consultas particulares e 14 milhões, repassados pela Secretaria Municipal de Saúde por atendimentos realizados dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).
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Por outro lado, as despesas chegam a 170 milhões de reais. Durante o ano, os executivos da entidade precisam passar o chapéu entre empresas e pessoas físicas em busca dos 50 milhões necessários para cobrir a diferença. Sufocopara fechar as contas até dezembro é algo comum na entidade, mas nunca o rombo atingiu esse tamanho. “Em 2015, o volume de doações caiu cerca de 30%”, justifica o superintendente de captação de recursos da AACD, Angelo Franzão. “Enquanto isso, apenas a conta de energia elétrica aumentou 50%.”
A maior parte do valor angariado espontaneamente é obtida durante a realização do Teleton, a maratona televisiva para arrecadação de doações promovida anualmente pelo SBT. A edição deste ano ocorre nos próximos dias 23 e 24. Curiosamente, as duas unidades fechadas em outubro tiveram a sua construção anunciada no próprio palco do show, em 2009,pelo então prefeito Gilberto Kassab.
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Na época, o governo do estado de São Paulo se comprometeu a erguer os prédios, inaugurados em setembro de 2012, enquanto o município arcaria com o pagamento acima da tabela do SUS dos custos pelos atendimentos das crianças nas novas unidades. No caso de uma sessão de fisioterapia, por exemplo, quecusta 65 reais, o SUS paga apenas 6,50 reais. “O acordo de bancar 100% nunca foi cumprido”, reclama Galvan.
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Kassab, hoje ministro das Cidades, diz que o repasse não ocorreu por questão burocrática: para se habilitar a receber esses recursos, a associação deveria ter mudado o estatuto atual (de entidade filantrópica) para virar uma organização social. Adiretoria da AACD nega qualquer compromisso nesse sentido e diz não esperar mais essa verba. “Ficamos menores para ajustar as contas e vamos operar assim daqui para a frente”, conclui Galvan.
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