Prata sempre foi segundo lugar no pódio. Entre os metais nobres, ficava eternamente atrás da toda poderosa platina e do onipresente ouro. Até agora. Vai ficando para trás o dia em que o metal branco, discreto, simples é encarado como “ segunda classe” entre os joalheiros. Cada vez mais o metal se presta a designs criativos de peças e a combinações com pedras consideradas de outra estirpe como o rubi. “A prata é um belíssimo metal, com suas propriedades particulares, e eu a trato exatamente da mesma maneira que o trato o ouro: as pecas são executadas pelo mesmo ourives, com as mesmas técnicas e ferramentas”, diz Camila Sarpi. A joalheira sempre teve um olhar fora do padrão, juntando madeira e diamantes, por exemplo. Na nova coleção, mistura prata e rubis, prata e diamantes. A combinação não tradicional entre os elementos, independentemente do valor do mercado, me interessa.”
Para quem se interessa pelo valor de mercado, a prata, sim, está em alta. Como commodity, seu valor sofreu um considerável aumento para ajudar a frear a desvalorização do dólar e o aumento da inflação em níveis mundiais. O preço da onça troy ultrapassou os 38 dólares. Na prática: o aumento foi quase 50%. “O consumo de prata é maior que a produção. Se não houvesse a reciclagem suas reservas já teriam se esgotado”, revela Caetano Juliani, geólogo e professor do Instituto de Geociências da USP. Hoje as maiores reservas do metal puro estão no Peru e na Austrália, segundo dados do Departamento de Geologia do Governo dos Estados Unidos.
A alta na cotação, no entanto, é o menos importante para gente como Antonio Bernardo. Conhecido por jóias mais esculturais, ele encontrou na prata um material, digamos, mais amigo da sua imaginação. “Ela não precisa ser tratada com tanta reverência, permite esculpir mais”, diz o designer. De fato, a prata leva sobre o ouro não só a vantagem de ser mais acessível ao bolso, mas de ser mais maleável em todos os sentidos. Inclusive no do uso — muitos a consideram mais “esportiva”. Bernardo retomou as criações em prata que já havia feito no início da carreira, nos anos 70. Hoje o material representa 12% da produção e 6% do faturamento da marca. Outra veterana, Clementina Duarte, que tem em seu currículo uma coleção de joias feitas para a grife de Pierre Cardin em 1967, também voltou a investir na prata. “Brasileiro sempre associa jóia a ouro , mas hoje mulheres mais novas estão comprando suas próprias jóias, e a prata tem um aspecto mais leve, mais desencanado e menos suntuoso para usar no dia-a-dia”, defende.
“A procura por peças de prata está muito grande”, confirma a empresaria Luiza Setúbal, a frente da loja de acessórios Lool, ela tem novos designers especializados no material sempre em sua mira. Sua multimarcas vende a incensada designer americana Pamela Love, e também aposta nos talentos nacionais como Ana Khouri, Patricia Gotthilf e Thales Pereira, da marca dThales. Pereira defende o status de joia para a prata com unhas e dentes. “É um erro chamar uma peça de prata de ‘acessório’. É uma jóia, sim, com o mesmo tratamento do ouro”, explica.
Os níveis de pureza da prata foram estabelecidos antes mesmo de Cristóvão Colombo e a turma ibérica aportar nas Américas, de olho na abundância do material. O Rei Afonso II, de Portugal, ainda no século XVIII instituiu a “prata de lei” (ou Sterling Silver, nomenclatura difundida pela Tiffany & Co.), punindo aqueles que negociassem o metal misturado com outros elementos. As ligas nobres são a prata 925 e 950, que contém respectivamente, 7,5 e 5% de cobre em sua composição.
Mesmo com toda tecnologia, o material exige atenção com a limpeza de tempos em tempos, porque a umidade do ar costuma deixá-la mais escurecida. O ideal é comprar um produto específico à venda em lojas especializadas, ou até mesmo em joalherias. A Tiffany & Co. vende uma opção a R$ 60. Modernérrima desde o início, em 1837, a joalheria americana oferece peças feitas com o metal — é um dos seus maiores trunfos e cartões de visita. Mas foi a contratação da designer italiana Elsa Peretti que a prata ganhou nova dimensão dentro da joalheria. “Ela emprestou seu prestígio a prata quando passou a desenhar para a marca nos anos 70″, afirma Sandro Fernandes, gerente geral da marca no Brasil. Depois dela, vieram peças de Paloma Picasso e do arquiteto Frank Gehry, numa prova de que o que importa na cotação de valores das apaixonadas por jóias não é a cifra, mas a criatividade.
Antonio Bernardo tel. (11) 3083-5622
Camila Sarpi tel. (11) 3477-3384
Clementina Duarte tel. (11) 3541-2117
Guerreiro e Ag Guerreiro tel. (11) 3813-5212
Lool tel. (11) 3037-7244
Tiffany & Co. tel. (11) 3552-5200