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Mais da metade das startups de tecnologia criadas na metrópole nos últimos tempos é liderada por jovens com menos de 30 anos

Por Jussara Soares
Atualizado em 1 jun 2017, 17h10 - Publicado em 21 nov 2014, 23h00
ingresse_Gabriel Benarrós
ingresse_Gabriel Benarrós (Fernando Moraes/)
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As espinhas mal haviam cicatrizado no rosto dos adolescentes Henrique Dubugras e Pedro Franceschi quando, em dezembro do ano passado, aos 17 anos, os dois fundaram a Pagar.me, companhia especializada em intermediar o pagamento de compras online, nos moldes do PayPal. Com o objetivo de dar a arrancada inicial no empreendimento, conseguiram arrecadar 1 milhão de reais junto a dois fundos de capital, o carioca Arpex e o belga Grid. Esse aporte é conhecido como investimento anjo no universo das startups, as chamadas pequenas empresas com grande potencial de crescimento. “Eles confiaram que, apesar de termos pouca idade, seríamos responsáveis o suficiente para tocar o negócio”, afirma Dubugras.

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Em menos de um ano, a dupla passou a administrar uma carteira de 200 clientes, entre lojas virtuais, prestadores de serviços e sites de financiamento coletivo. Até o fim de 2014, a meta é empatar receitas e despesas. No próximo ano, eles esperam movimentar 500 milhões de reais em transações, faturando mais de 7 milhões de reais. A cada pagamento efetuado, a empresa recebe 1,5% sobre o valor, além de cobrar 50 centavos por operação. Os garotos tocam o negócio em um escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima, com uma equipe de dez pessoas.

Ambos começaram a mexer com programação de computadores na infância. Aos 8 anos, Franceschi irritava a Apple ao ensinar usuários a desbloquear iPhone, iPod e iPad — chegou a ser notificado extrajudicialmente pelo gigante da tecnologia. Para seguirem o sonho de tornar- se os donos da maior empresa do país em seu ramo de atuação, os sócios chegaram a abrir mão de vagas na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, uma das mais prestigiadas do mundo. As bolsas foram obtidas por meio da Fundação Estudar, do empresário Jorge Paulo Lemann. “Meus pais não gostaram quando tranquei a matrícula, mas hoje concordam comigo”, diz Dubugras.

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Eles não são os únicos de sua geração a trocar a faculdade ou mesmo um emprego estável pelo risco de investir em um caminho próprio. Cerca de 60% das empresas iniciantes na área têm jovens com menos de 30 anos em sua direção, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). O Estado de São Paulo concentra 726 do tipo, o que representa 25% do total no país. Além da capital, Campinas e Ribeirão Preto são polos desse modelo de negócio. “Essa é uma geração que quer ser dona do próprio nariz”, diz o gestor de projetos da entidade, Vinícius Machado, com 28 anos.

 

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No caso de Gabriel Benarrós, a ideia de abrir uma empresa surgiu entre 2007 e 2011, quando frequentava os cursos de economia e psicologia em Stanford. Chegou a receber propostas para trabalhar em grandes companhias americanas, mas preferiu voltar ao Brasil. “Não foi uma decisão lógica, mas emocional. Acredito que minha função social é criar valor aqui”, afirma. Assim, há dois anos, mudou-se para São Paulo e fundou a Ingresse, um portal de venda de ingressos pela internet. Desde o início, arrecadou 10 milhões de reais com investidores. A expectativa é fechar este ano com 400 000 bilhetes comercializados. Para 2015, a meta é processar 1,5 milhão de entradas, o que renderia um faturamento de 17 milhões de reais. A empresa ganha com uma taxa de conveniência de 10% sobre o valor de cada tíquete negociado. “Há gente que se espanta com minha idade quando sentamos para negociar”, conta Benarrós. “A sorte é que, na área digital, essa reação costuma ser positiva”, completa.

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A estratégia de trocar um cargo em multinacionais pela vida de pequeno empresário é estimulada por especialistas do meio. “Muitas vezes, eles acabam quebrando a cara, mas o nível de aprendizado e o estímulo em uma startup são muito maiores que nas grandes corporações”, diz o professor Tales Andreassi, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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O administrador de empresas Lucas Amoroso Lima, 25, formado pela FGV, por exemplo, trabalhou  no Citibank entre 2009 e 2012, mas preferiu abandonar a promissora carreira no mercado financeiro para abrir o Men’s Market, um e-commerce  de cosméticos para homens. Fundada com 500 000 reais coletados com amigos e familiares, a empreitada lançada na internet vendeu 5 000 produtos por mês e faturou 2 milhões de reais em 2013, após um ano de operação. Os resultados ajudaram o negócio a receber um aporte de 3 milhões de reais do investidor holandês Kees Koolen, criador do booking.com, site de reservas on-line de hotéis. Mas o que Lima mais comemora é a liberdade. “Antes eu tinha de usar terno, agora posso me vestir como quiser.” O visual despojado não significa pouco empenho: ele trabalha dezesseis horas por dia. “É muito, mas tenho mais prazer.”

Men's Market _ Lucas Amoroso Lima
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Um exemplo doméstico de sucesso para esses empreendedores é Rodrigo Borges, 39, criador do Buscapé, um serviço de comparação de preços on-line, em 1998. Onze anos depois, 91% das ações do negócio foram vendidas por cerca de 880 milhões de reais ao grupo sul -africano Naspers. Borges mantém participação minoritária e não possui  mais cargo na operação. Aplicou parte do patrimônio em 21 startups, das mais diferentes áreas. Entre as suas apostas está o Men’s Market. “Um bom empreendedor ‘suja a mão’ e participa de todas as etapas do processo”, ensina.

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