O prazer estava em tudo: ver a paisagem pela janela do trem, observar os novos modelos de carro, saborear o gosto do pastel frito na hora e imaginar como seria o Cambuci, bairro para o qual Josenildo Barbosa da Silva, de 37 anos, se dirigiu após deixar a unidade de Franco da Rocha perto das 17 horas, em 17 de outubro. Ele passou catorze anos preso por duas condenações por sequestro. Sem contato com a família, não teria para onde ir, se não fosse o relacionamento com uma operadora de telemarketing aposentada que conheceu em uma lanchonete durante a saidinha de Natal de 2012.
Desde então, ela nunca mais deixou de visitá-lo. Resolveu abrigá-lo em seu apartamento, com o filho de 7 anos. Josenildo diz que chegou a dividir a cela com cinquenta homens no presídio de Osasco, quando o grupo tentou cavar um túnel para fugir. A operação foi frustrada e ele ficou por meses (“não me lembro quantos”) em uma solitária. “Imagina um lugar do tamanho de um banheiro, com um banheiro dentro”, descreve. Católico praticante, saiu com pouco mais de 20 reais no bolso e quis parar numa igreja no Ipiranga. “Acho importante agradecer pela nova vida”, disse ele, que orou fervorosamente com as mãos erguidas. Nesse dia, prometeu que arrumaria um emprego. Em uma semana, conseguiu: é vigia noturno de uma obra, com salário mensal de 950 reais.
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