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Âncora Dony De Nuccio pede demissão da Rede Globo

"Com aperto no coração solicito meu afastamento do telejornalismo", escreveu em carta enviada à emissora

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 ago 2019, 14h59 - Publicado em 1 ago 2019, 14h49
dony de nuccio olhando para a câmera com feição séria
 (Reprodução/Veja SP)
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Dony de Nuccio, âncora do Jornal Hoje, pediu demissão da Rede Globo nesta quinta (1º). O motivo do afastamento do jornalista é o trabalho ativo em uma empresa de comunicação de nome PrimeTalk, que teria recebido 7 milhões de reais em um único mês por conta de um contrato envolvendo a aparição de Dony em vídeo-aulas do Banco Bradesco. A informação foi revelada pelo site Notícias da TV.

Dony enviou nesta manhã uma carta ao diretor de jornalismo da emissora, Ali Kamel. Nela, reitera que não usou de má fé por ter feito atividades comerciais sem o conhecimento da Globo. “Reitero que minha função não era negociar valores com clientes, mas sim trabalhar na concepção dos projetos e em seu conteúdo”, explica o comunicado. 

Ele ainda afirma que, agora, entende que um dos serviços poderia soar como assessoria de imprensa, algo que “ultrapassa os limites do que a Globo espera de seus jornalistas”. Não quero mais – por qualquer que seja o artigo ou vazamento na contínua tentativa de destruir minha reputação – constranger você, a Globo ou a minha família“, diz na carta.

Em resposta, Ali agradece a Dony pelos serviços prestados e diz que aceita o pedido de demissão com pesar, mas entende “que era o melhor caminho a seguir”. Dony teve passagens por diversas atrações da emissora, incluindo FantásticoBom Dia São Paulo Jornal Nacional. Há dois anos, foi alçado à bancada do Jornal Hoje para substituir Evaristo Costa ao lado de Sandra Annenberg.

Confira as mensagens completas:

Caro Ali, 

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Como afirmei anteriormente, não tinha conhecimento de que os tipos de serviços prestados pela empresa à qual estava ligado contrariavam normas da Globo. Reitero que minha função não era negociar valores com clientes, mas sim trabalhar na concepção dos projetos e em seu conteúdo. 

Frente à recente onda de ataques que venho sofrendo, e com indícios de criminosa invasão de computadores, arquivos e mensagens, procurei vasculhar o histórico de dois anos de e-mails enviados por mim enquanto cumpria função na empresa. De fato, na esmagadora maioria das vezes, eu não tratava de valores com contratantes. Mas, em algumas circunstâncias pontuais, e das quais eu sinceramente não me recordava, há sim menção a cifras e projetos. Nos poucos casos em que isso aconteceu, a proposta geralmente não prosperou e a contratação não foi efetivada. De qualquer forma, fui traído pela memória. E me penitencio por isso. 

Quero acrescentar também que depois de nossa longa conversa e do relato mais pormenorizado que lhe fiz sobre as atividades já desempenhadas pela PrimeTalk, há um serviço pontual que incluiu o que pode ser interpretado como assessoria de imprensa. Entendo com os olhos de hoje que o escopo dos serviços prestados ultrapassa os limites do que a Globo espera de seus jornalistas. E lamento que, mesmo sem dolo, não tenha percebido isso antes. Não quero mais – por qualquer que seja o artigo ou vazamento na contínua tentativa de destruir minha reputação – constranger você, a Globo ou a minha família. 

Desde muito cedo na vida sonhei em trabalhar com televisão, e procurei ao longo de toda minha trajetória me preparar para poder, algum dia, agregar muito valor aos quadros da Globo. Foi pensando nisso que procurei a formação acadêmica mais sólida possível, com jornalismo, economia, extensão internacional e mestrado em economia e finanças.

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Em 2011, abri mão de uma promissora carreira no mercado financeiro, para me tornar repórter nos quadros da Globo. Parecia uma decisão difícil, mas não foi: representava o começo de uma nova caminhada, com a qual eu sonhava desde tempos remotos. 

Dentro da emissora tive a possibilidade de trabalhar nos mais diversos telejornais e funções, e participar de algumas das coberturas mais marcantes da história do nosso país. Fui repórter do Jornal da Globo, do BDSP, SPTV1 e SPTV2. Fui editor de economia e comentarista do Jornal das 10 e do Hora 1. Ajudei a criar e depois apresentar programas como o Conta Corrente e GloboNews Internacional, além de ancorar o próprio J10, participando de análises políticas e econômicas com algumas das maiores referências do ramo no jornalismo brasileiro. Nos últimos dois anos, tive a imensa alegria e desafio de comandar o Jornal Hoje, dividindo bancada com a talentosa, inspiradora e hoje amiga pessoal, Sandra Annenberg. E ainda pude apresentar o Fantástico e o Jornal Nacional em diversas ocasiões. Olho no retrovisor com alegria e satisfação por toda essa caminhada, e sou muito grato a você e à Globo pela oportunidade que me deram de bater asas, trabalhar duro e voar alto, ocupando alguns dos mais importantes postos do telejornalismo brasileiro. Fico orgulhoso e feliz com o que pudemos construir e criar juntos. 

Mas, assim como é preciso persistência e suor para crescer, é preciso sabedoria para parar. 

Nas últimas semanas me vi mergulhado em uma infindável onda de ataques, com a vida dentro e fora da Globo vasculhada e revirada, sigilos fiscais violados, endereços expostos, trabalhos de exclusiva veiculação interna publicados, e até e-mails privados hackeados. 

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Quanto mais perto estamos do topo da montanha, mais forte é o vento. E é esperado que seja assim. Mas essa contínua campanha para me destruir e sangrar a qualquer custo não pode prosperar. Não faz bem nem a mim, nem à minha família e nem à emissora. Não é justo com nenhum de nós. 

Por esse motivo, embora com aperto no coração, solicito meu afastamento do telejornalismo. 

E o faço com o espírito leve e a consciência tranquila, porque jamais ajo de má fé. Jamais tive o intuito de burlar regras ou obter benefício que julgasse incompatível com as funções que ocupava na emissora (isso sim, seria incompatível com a minha história pessoal). Trabalhei, duro e dobrado, para complementar a renda, fora do horário da Globo, e dentro dos limites que ao meu ver eram compatíveis e aceitáveis. Se errei, não foi com dolo, e humildemente peço desculpas. 

Estou convicto de que em cada um dos dias em que aqui estive tratei com respeito e lealdade a todos com quem interagi, independentemente da função ou hierarquia. E sempre enxerguei a todos não como colegas de trabalho, mas como amigos. 

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Saio, neste momento, certo também de que em cada um dos dias e anos em que aqui trabalhei, sempre atuei com absoluta paixão e dedicação para levar ao público a notícia da forma mais atraente, correta, completa e interessante possível.

Mais uma vez, muito obrigado pela parceria, pelas oportunidades e pela confiança.

Construímos uma história incrível.

Dony De Nuccio

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Resposta de Ali Kamel

Caro Dony,

Agradeço sua carta honesta e transparente. Aceito o seu pedido de demissão com pesar mas, assim como você e pelas razões que você aponta, com a certeza de que é o melhor caminho a seguir. Entendo que é absolutamente sincero quando afirma que não agiu com dolo, e esta carta é uma prova eloquente disto. Nossa longa conversa de hoje cedo permitiu que eu entendesse as suas motivações e você entendesse as razões da Globo. Agradeço os anos em que trabalhou na Globo, que você descreveu tão bem. E o seu empenho e a sua dedicação. Um abraço e sorte na sua nova trajetória,

Ali Kamel

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