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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.

CONVIDADO EM TERAPIA: Psicologia, esporte e o jeitinho brasileiro

Eduardo Cillo, que atuou como psicólogo na preparação da Seleção Brasileira Masculina de Futsal para a Copa do Mundo Fifa de 2012, fala sobre a importância do planejamento na busca de resultados esportivos. #chegadejeitinho (por Eduardo Cillo) A Copa do Mundo de 2014 me fez pensar em alguns assuntos que, de forma latente, estavam incomodando. […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 20h20 - Publicado em 11 nov 2014, 17h04
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Eduardo Cillo, que atuou como psicólogo na preparação da Seleção Brasileira Masculina de Futsal para a Copa do Mundo Fifa de 2012, fala sobre a importância do planejamento na busca de resultados esportivos.


#chegadejeitinho (por Eduardo Cillo)

A Copa do Mundo de 2014 me fez pensar em alguns assuntos que, de forma latente, estavam incomodando. Muito do que escrevo aqui partiu de reflexões sobre o desempenho da Seleção Brasileira na própria copa. Nos divertimos, curtimos, tiramos selfies, postamos no Facebook, Twitter e Instagram, mas acima de tudo sofremos. E como sofremos… Vibramos com a vitória contra a Croácia, sofremos contra o México e culpamos o goleiro Ochoa. Desencantamos contra Camarões e ficamos otimistas. Surtamos nas oitavas, contra o Chile. O choro chamou a atenção, mas somente até a vitória contra a Colômbia, que mascarou as nossas falhas de preparação. Os sinais de alerta foram mascarados e aí veio o tsunami alemão. Chocante. Embasbacante. E, é claro, humilhante. Para nós. Para o resto do mundo? Surpresa, mais pelo placar do que pelo resultado em sí. A Seleção Alemã se preparou, viveu a experiência e a cultura brasileira. Mais do que nós… enquanto nos preparávamos no clima pouco específico da Granja Comary, eles optaram pelo sul da Bahia (lembrando que esta copa ocorreu em latitudes de climas bem diferentes, do Oiapoque ao Chuí); vivendo, inclusive a proximidade com os Pataxós, muito bem homenageados nas comemorações pelo título. Além da experiência local, os alemães vieram se preparando desde 2000, construindo, aceitando suas limitações do futebol força até o futebol coletivo. Utilizaram a ciência, em suas múltiplas áreas aplicadas ao esporte, incluindo a análise de desempenho e a psicologia do esporte e suas bases em exercícios de yoga seriamente explorados. Garantia? Nenhuma! Higuain,  Messi e Palacios poderiam ter dado outro final a esse capítulo da história recente do futebol, mas os danados Deuses do Futebol quiseram garantir a coroa a quem tanto trabalhou pela taça. Vida que segue para a Seleção  Brasileira na copa. Disputa do terceiro lugar contra a Holanda (a qual  adotou um esquema de concentração bem alternativo: ao invés da tradicional rigidez do isolamento de jogadores nos quartos…). Nova traulitada na cabeça e a confirmação de que chegamos longe demais nessa nova copa em nossas terras. Culpa de quem? Do Felipão e seu currículo vitorioso? Da Regina Brandão e sua expertise em avaliação psicológica? Do Fred e sua resiliência em gols na horizontal? Do Thiago Silva e David Luiz com as emoções a flor da pele? Hummm… acho que não, né? Culpa nossa mesmo que acreditamos que dava para levar o Hexa somente com a nossa bagagem ultra vitoriosa das copas anteriores. Que preferimos fechar os olhos e colocar todas as fichas na força do Hino Nacional a capela, quase que ignorando os recentes protestos que fizemos durante a Copa das Confederações. Protestos que ultrapassaram as quatro linhas e fizeram vir a tona as insatisfações com nossos tradicionais problemas na saúde, educação, arrecadação gulosa de impostos sem devolução em serviços públicos básicos e essenciais, e suas decorrências sociais. Infelizes de nós quando não paramos para refletir que os problemas do nosso futebol não são diferentes dos nossos problemas sociais. Ficamos mal acostumados porque nos tornamos os maiores vencedores das copas sem muito planejamento. Achávamos que daria certo outra vez só na base da empolgação e da história vitoriosa. Cada copa que começa é vencida pela sua própria história, e não somente pelo passado remoto, mesmo que seja este um passado vencedor. Ficamos para trás. Nos entregamos ao clima da vitória de outras copas que conquistamos, abusamos e nos acomodamos pelo fato do Brasil ter virado moda há cerca de 10 anos atrás quando o momento econômico e cultural apontava o nosso país como potência, quando conseguimos o direito de receber uma Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Não acredito que jogamos a copa com salto alto, mas sim com havaianas nos pés, que tanto nos orgulhamos de exportar. Bom para ir a praia, mas não para jogar bola e nem para reuniões políticas ou de negócios. Na verdade? É muito comum acharmos que podemos dar um jeito na última hora: pagar contas no vencimento, ir no médico na emergência, trocar o técnico na derrota e chamar o psicólogo quando estamos na zona de rebaixamento…

#chegadejeitinho

Eduardo Neves Pedrosa de Cillo é Psicólogo do Esporte junto a equipe principal de futebol de campo do Botafogo de Futebol e Regatas (RJ).

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