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Protetoras contam como começaram a resgatar animais das ruas

Por amor, mulheres cuidam dos bichos abandonados sem apoio nem ajuda financeira

Por Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h14 - Publicado em 21 Maio 2021, 06h00
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  • Mulheres movidas pela vontade de oferecer uma vida melhor a animais abandonados pelas ruas se desdobram — muitas vezes sem apoio nem ajuda financeira — para tratar e doar milhares de pets durante suas trajetórias. As protetoras castram, vacinam e despulgam cães e gatos antes de levá-los para a nova casa.

    “Elas fazem a diferença há muito tempo e, antigamente, eram chamadas de loucas. Eu peço que ninguém abandone bichos na porta delas, mas que as ajudem. É fácil se sobrecarregar quando se está sozinha. A diretoria do meu instituto tem de me segurar (para não resgatar ainda mais bichos) quando estamos lotados”, conta a ativista pela defesa dos animais Luisa Mell.

    As protetoras que fazem parte desta reportagem não recebem pedidos de resgate e aceitam doações de ração, vermífugos, antipulgas, tapetes higiênicos, jornais e dinheiro para arcar com os altos custos de cirurgias, castração e vacinas dos resgatados.

    Déia Freitas, 46

    Uma mulher de cabelos bem pretos abraça dois cachorros, um cinza e um amarelo, na grama
    Déia Freitas: começou os regates há mais de 20 anos (Rogério Pallatta/Veja SP)

    “Quando cursava psicologia em 1995, resgatei um cão de porte grande das ruas e o levei para o diretório da minha faculdade escondido. Ele tinha tanta sarna que eu não sabia a cor do pelo. Eu o mantive lá por quatro meses, mudando de sala em sala, e só o tirava para ir ao veterinário. Uma professora comentou sobre o cheiro de cachorro, mas ninguém descobriu. Encontrei um adotante para ele e não parei mais. Adotei seis cães e nove gatos. No meu bairro, em Santo André, pego os animais que as pessoas deixam solto e devolvo castrados. Às vezes o dono nem sabe onde o bicho dele está e eu já castrei. Isso controla a procriação e as doenças entre os pets. Eu procuro tutores para mais de dezesseis bichinhos que estão em casas de amigas e hotel para animais por meio do Instagram @patadapet. Também sou catsitter e criei o quadro Patada no podcast Não Inviabilize, sobre a história de adoção de alguns resgatados.”

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    Cleide Santos, 58

    “Quando meu poodle morreu, resgatei outro da rua. Salvei mais animais e acabei ficando com seis deles em um apartamento. Agora, em uma casa, cuido de vinte cachorros e oito gatos. Sou voluntária em feiras de adoção, mas prefiro entregá-los pessoalmente, para conferir se o ambiente é seguro. Doei uma cadela no Ipiranga e a tutora deu para a mãe, em Francisco Morato. Fui até a casa e a cachorra estava apavorada, passava dias presa, cercada de rottweilers e pit bulls. Hoje é mais difícil de me enganar. Faço muitas perguntas ao adotante. Sou exigente porque é uma vida na minha mão e, se der algo errado, quem paga é o animal. Há quem questione por que motivo faço esse trabalho ou por que não ajudo pessoas. Geralmente quem fala isso não ajuda nenhuma causa. Eu faço o que me comove, não o que os outros acham bonito. Entro em contato com interessados em adoção pelo e-mail mcleide30@outlook.com.”

    Mariana Aidar, 44

    Uma mulher posa com um cavalo ao lado de uma grama vertical
    Mariana Aidar: ajudou mais de 1000 bichos (Arquivo pessoal/Veja SP)

    “Pedalando pela ciclovia do Rio Pinheiros, levo comigo uma tesoura para cortar plásticos no rio que ficam presos no corpo das capivaras, que apertam e machucam a pele. Em parceria com a empresa que administra o espaço, Farah Service, criei o Centro de Apoio e Proteção Animal (@capa_ciclovia). Também resgatamos cães e gatos que surgem ali. Temos permissão do governo para recuperar animais silvestres feridos e depois soltá-los no mesmo lugar. Em dezessete anos, ajudei mais de 1 000 bichos. Não consigo passar reto se vejo um animal machucado. O protetor faz um trabalho que é papel do governo. Nossa maior dificuldade é encontrar empresas que apoiem a causa. Tenho 45 gatos e cachorros sob meus cuidados, mas já acolhi até uma égua. O animal fugiu e percorreu a Avenida Castello Branco inteira até meu bairro. Peguei uma corda, trouxe para meu quintal e cuidei dela até encontrar o dono por meio do Centro de Zoonoses.”

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    Adriana Shelkovsky, 45

    Uma mulher loira abraça um cachorro grisalho que está com a boca aberta
    Adriana Shelkovsky: em meio à dívidas, os resgates são por amor (Arquivo pessoal/Divulgação)

    “Sou publicitária, mas estou desempregada há um ano. Gastei toda minha poupança por essa causa. Já paguei o resgate e a viagem de uma gata do Rio de Janeiro para São Paulo. Geralmente, protetores vivem falidos e endividados, mas faço isso por amor aos animais. Minhas roupas vivem cheias de pelos. Meus pais sempre resgataram pets e ficávamos com os mais idosos ou com necessidades especiais porque ninguém os queria. Dos 11 aos 18 anos, procurava por cachorros de rua e os trazia na mochila para casa. Mentia que encontrava por coincidência. Há cinco anos, em uma viagem a Campos do Jordão, uma gata sentou no meu colo. Eu tinha pavor de gatos, mas ela me pedia carinho. Comprei caixa de transporte, ração e tudo do bom e do melhor e a levei para minha casa. Em dois dias estava dormindo comigo e virou o amor da minha vida. De lá para cá, resgatei 2 500 felinos. Atualmente cuido de setenta gatos e 28 cães espalhados por lares solidários, hospedagens e casas de amigas. Construí um gatil na residência de uma senhora que me ajuda. Entre consultas no veterinário e castrações diárias, acabo almoçando dentro do carro. Os animais de que cuido estão para doação no Instagram @protetorachoks ou na página do Facebook Protetora Choks.”

    +Assine a Vejinha a partir de 8,90.

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    Publicado em VEJA São Paulo de 26 de maio de 2021, edição nº 2739

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