É só bater à porta de qualquer instituição de proteção animal para ouvir os casos mais escabrosos de abandono de bichos de estimação. Em sua sede, em Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo, o Clube dos Vira-Latas acolhe cerca de 500 cachorros. Todos os que foram resgatados estavam desamparados, muitos doentes ou idosos. Entre eles, aparece uma cocker preta de 8 anos deixada na Rodovia Fernão Dias. Ela esperou por dois dias sem sair do lugar até que fossem salvá-la.
Outro caso é de um viralata que foi levado até uma estrada e, vendo o carro de seu dono sumir no asfalto, correu para alcançá-lo. Foi atropelado por outro veículo e acabou com a bacia quebrada. “Recebo cerca de 190 ligações por dia de pessoas que querem se livrar de seus cachorros”, diz Cláudia Demarchi, presidente da ONG. “Elas dão explicações como ‘vou viajar’, ‘fiquei grávida’…”
No Centro de Recuperação de Animais Silvestres do Parque Ecológico do Tietê, outro local muito procurado para essa finalidade, todos os dias cerca de cinco donos tentam deixar ali seus papagaios, aves que podem viver até os 80 anos, apenas porque se cansaram de sua companhia. Nem sempre há vagas. Tudo isso sem falar dos que largam na rua (ou matam) gatos, coelhos, répteis…
Frequentemente, as pessoas compram um animal por impulso, sem pensar que serão um compromisso por muitos anos. Sabem que os pets se mostram ótima companhia, porém se esquecem do fato de que dão trabalho e causam despesas inesperadas. Pensando em como poderia atenuar o problema do abandono, o empresário Richard Civita acaba de publicar quatro livros pela sua editora, a Nova Cultural, sobre o passo a passo para cuidar de um cão. Com lançamento previsto para sexta (6), a série estará à venda nas bancas da cidade e pelo site www.lovingdogs.com.br (12 reais cada livro).
Um dos volumes é escrito pelo próprio Civita e três pelo veterinário Marcelo Quinzani, sendo um deles em parceria com o adestrador Wilson de Oliveira. Ensinam, respectivamente, como conhecer o amigo de quatro patas, recebê-lo, cuidar dele e educá-lo (confira algumas dicas no quadro abaixo). “É fundamental perceber que não se trata de um bicho de pelúcia ou um enfeite, mas sim algo vivo, que faz xixi, fica doente, chora, late e, acima de tudo, precisa ser amado e cuidado”, diz ele, um ativo protetor de animais.
Civita ganhou sua primeira mascote quando tinha 11 anos. Hoje, aos 74, dezesseis cachorros compartilham com ele sua casa na Zona Oeste. Além disso, cuida de outros 22 cães em um sítio no interior. Parte da matilha costuma viajar de avião anualmente com ele para os Estados Unidos durante as férias. Apenas um deles, um poodle, não é vira-lata.
Seu novo xodó é a cadela Bianca, resgatada há duas semanas. Ela sofre de diabetes, está cega por causa de uma catarata e muito abaixo do peso. Outra, Bela, que está sempre com a língua pendurada para fora devido a uma cinomose — doença viral que atinge o sistema nervoso —, também é só chamego com o dono. “Todos os animais têm histórias trágicas de rejeição”, conta o dono. “As ONGs com as quais tenho contato me ligam pedindo ajuda quando sabem que o cachorro não tem chance alguma de ser adotado.” Os bichos já foram castrados e vacinados. Três fazem sessões periódicas de acupuntura. “Não cogitaria nunca deixar meus ‘filhos’ caninos”, diz ele, pai de seis filhos. “A fidelidade deles é incondicional. As pessoas cometem uma maldade enorme ao trair seu amor quando os abandonam.”
Dez regras de ouro
O que é necessário saber antes de adotar um cão
► O animal vive normalmente entre nove e dezesseis anos, dependendo de sua raça e tamanho
► Não é aconselhável adquirir um filhote antes que ele complete 3 meses
► Coloque no bichinho uma coleira com seu telefone, para evitar perdê-lo
► Educar um cão é possível, porém a tarefa demanda paciência e persistência
► Seu paladar não muito desenvolvido é compensado pelo olfato aguçado, com trinta vezes mais receptores que o dos humanos
► Uma vez conquistado o direito de dormir na cama do dono, é difícil reverter a situação
► Os bichos conseguem reconhecer o azul e o amarelo e diferenciar diversos tons de cinza
► É necessário agendar, no mínimo, duas visitas por ano ao veterinário, uma delas para vacinação
► Evite alimentá-lo com carnes temperadas, alho, cebola, chocolate, embutidos, leite…
► A fêmea tem gestação de cerca de sessenta dias. Se quiser evitar a reprodução, opte pela castração
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