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Hipopótamo de 1 tonelada passa por raro tratamento de canal em Campinas

Tratamento foi realizado em dois dentes incisivos de Dinho, que apresentava falta de apetite e sinais de dor

Por Livia Uchoa
Atualizado em 17 jul 2025, 18h20 - Publicado em 16 jul 2025, 17h03
Segundo o Dr. Renato Fecchio, Dinho é um dos primeiros hipopótamos no Brasil a receber o tratamento
Segundo o Dr. Renato Fecchio, Dinho é um dos primeiros hipopótamos no Brasil a receber o tratamento (Prefeitura Municipal de Campinas/Reprodução)
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O caso raro de Dinho movimentou o Parque Bosque dos Jequitibás, em Campinas, interior de São Paulo, na segunda-feira (14). O hipopótamo de aproximadamente 15 anos e 1 tonelada e meia precisou passar por um tratamento de canal em dois dentes incisivos. 

“O animal quando tem o problema de canal, que chamamos de lesão endodôntica, tem muita dor, porque a polpa, o tecido dentro dos dentes, comprime os nervos, o que também causa muita sensibilidade”, explica o médico veterinário especialista em odontologia de animais selvagens, Roberto Fecchio. 

Integrante da equipe que realizou o procedimento em Campinas, Fecchio contou que Dinho estava apresentando sinais relacionados à dor, como dificuldade para comer e sensibilidade para beber água fresca. “Ele estava mais apático”, acrescenta. 

O procedimento mobilizou 16 profissionais, incluindo veterinários, especialistas em odontologia de animais selvagens e anestesistas
O procedimento mobilizou 16 profissionais, incluindo veterinários, especialistas em odontologia de animais selvagens e anestesistas (Dr. Roberto Fecchio/Reprodução)

No caso dos megavertebrados, animais vertebrados de grande porte, o tratamento odontológico é ainda mais complicado por conta da anestesia. Fecchio explica que pela agressividade da espécie, não é possível realizar exames pré-operatórios, o que aumenta os riscos do procedimento. “A gente também não consegue fazer nenhuma manobra de ressuscitação, como massagem cardíaca, caso tenha alguma intercorrência.”

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“No tratamento do Dinho nós tínhamos três anestesistas com experiência nesse tipo de procedimento, porque o maior risco para o animal está ligado a isso”, comenta. O procedimento, que durou em média duas horas, contou com dardos anestésicos e anestesia local para garantir que o hipopótamo não sentisse dor ou incômodo.  Guta Adami, anestesiologista de animais silvestres, explica que também foi utilizado a anestesia inalatória, via sonda nasal, para evitar que o hipopótamo acordasse. 

Dardos anestésicos utilizados em Dinho
Dardos anestésicos utilizados em Dinho (Dr. Roberto Fecchio/Reprodução)

Fecchio ainda alerta sobre a importância de ter profissionais especializados em anestesia para esse tipo de animal. “Os fármacos utilizados são super concentrados. Eles precisam ser manipulados por especialistas porque o potencial de intoxicação ou sedação da equipe é muito grande”. A periculosidade e a força da espécie são outros riscos para os profissionais durante o procedimento. 

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Recuperação de Dinho

Após o tratamento do canal, o hipopótamo recebeu medicamentos que reverteram o efeito da anestesia. “O Dinho já estava em pé, caminhando, cerca de uma hora depois do procedimento”, relata Fecchio. 

Ele também ficou 24 horas sem acesso ao tanque de água, como uma forma de prevenção de afogamento pelos efeitos dos anestésicos. “Em cerca de sete dias ele já vai estar comendo e bebendo normalmente”, conclui. Os medicamentos do pós-operatório são misturados na comida do animal. 

“Ele está super bem, comeu no mesmo dia, já voltou pra água. A recuperação dele está sendo muito satisfatória”, finaliza Guta.

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Imagens divulgadas hoje do hipopótamo em recuperação
Imagens divulgadas hoje do hipopótamo em recuperação (Prefeitura Municipal de Campinas/Reprodução)

É comum hipopótamo fazer canal? 

Eduardo Viana Gasque, biólogo, explicou para a VEJA SP que esse tipo de procedimento não é comum nos megavertebrados, como os hipopótamos, e envolve muitos riscos. “Especialmente por conta da anestesia e da periculosidade da espécie, que é muito agressiva.” Ele participou do tratamento odontológico de outro hipopótamo brasileiro: o Toiço.

O biólogo relata que a recuperação de Toiço foi rápida: “no dia seguinte ele já estava se alimentando normalmente”
O biólogo relata que a recuperação de Toiço foi rápida: “no dia seguinte ele já estava se alimentando normalmente” (Eduardo Viana Gasque/Reprodução)
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No caso deste, o canal foi realizado no final de 2024, no Zoológico de Presidente Prudente, interior do estado. Gasque conta que o hipopótamo apresentou falta de apetite e irritabilidade, assim como Dinho. 

“A medicina veterinária tem avançado no Brasil e o Fecchio trouxe muito conhecimento adquirido no exterior também, inclusive profissionais dos Estados Unidos vieram com ele no tratamento do Toiço”, conclui.

Para realizar os procedimentos de Toiço e de Dinho, foram necessárias adaptações nos zoológicos para construir uma estrutura cirúrgica odontológica dentro do local. “Lá no zoológico de Campinas foi feita uma adaptação com toldos, materiais para abrir boca, materiais odontológicos portáteis e materiais de anestesia respiratória portáteis, já que não é possível transportá-lo [Dinho]”, explica Dr. Fecchio.

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